O JOGO DE XADREZ COMO ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO
PSICOPEDAGÓGICA PARA ALUNOS COM TRANSTORNO POR DÉFICIT DE
ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE
O JOGO DE XADREZ COMO ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO
PSICOPEDAGÓGICA (TDAH)
(Artigo Científico de Elizabeth Kuchiniski de Francisco)
A pesquisa apresentada está vinculada ao Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) do estado do Paraná. Esta tem como objeto de
estudo o aluno com transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), o
qual é um transtorno funcional específico que leva crianças e adolescentes a
prejuízos acadêmicos e sociais devido aos sintomas de desatenção,
hiperatividade e impulsividade. Desta forma,buscou-se alternativas para
contribuir nos processos de atenção dos alunos com TDAH, usando como estratégia
atividades relacionadas ao Jogo de Xadrez. Nesse processo realizou-se a
produção de um Caderno Pedagógico, contendo fundamentação teórica e sugestões
de atividades para serem desenvolvidas com alunos com TDAH, matriculados na
Sala de Recursos. A intervenção pedagógica foi realizada na Escola Estadual
Monteiro Lobato, Ponta Grossa/PR, pela professora de Educação Física,
proponente deste estudo do PDE e escolares com TDAH. Como resultado,
verificou-se que os escolares melhoraram os níveis de atenção sustentada,
seletiva e executiva. Destaca-se a melhora na auto-estima dos alunos com TDAH
que participaram desse estudo, além disso o relato dos professores desses
educandos do Ensino Regular quando referem-se a mudança visível desses
educandos em relação a mobilização, interesse e produção escolar. Conclui-se a
pesquisa afirmando que o estudo possibilitou aos
professores ampliar os conhecimentos e provocar mudanças
qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense, estabelecendo o
diálogo entre os professores das Universidades e os da Educação Básica, por
meio de troca de experiências e produção de conhecimentos.
1 INTRODUÇÃO
Ensinar é uma tarefa que impõe desafios diários e variados
para o educador. Ensinar uma criançacom TDAH (Transtorno por Déficit de Atenção
e Hiperatividade) é ainda mais desafiador, pois cada criança com ou sem
transtorno é única.
No contexto escolar há uma grande diversidade de educandos,
os quais apresentam suas singularidades e especificidades. Muitas vezes, o
professor desconsidera a individualidade dos escolares propondo atividades de
forma coletiva, o que se traduz posteriormente em dificuldades de aprendizagem.
É comum a queixa dos docentes que o aluno não aprende porque
é desatento e/ou indisciplinado. O Transtorno por Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um dos mais frequentes distúrbios que ocorrem
nas crianças. Não existe uma única forma de TDAH e com o tempo ela pode sofrer
alterações imprevisíveis. Esse distúrbio afeta a criança na escola, em casa e
na comunidade em geral, muitas vezes prejudicando seu relacionamento com
professores, colegas e familiares (SARRIÀ, 1995, p.160). Para haver um
diagnóstico deste transtorno, os sintomas devem interferir significantemente na
vida da criança, num comportamento crônico, com duração de no mínimo seis meses
e as características devem estar presentes em mais de um ambiente (DSM – IV,
1995).
O TDAH tem sido atualmente objeto de estudos de vários
profissionais, tanto da área médica quanto educacional. Este transtorno
caracteriza-se pela desatenção, agitação motora excessiva - hiperatividade e
auto-regulação de impulsos - impulsividade, os quais favorecem a manifestação
de problemas de aprendizagem, de relacionamento familiar, escolar e social (DSM
– IV, 1995; RIZO; RANGE 2003; ROHDE; BENCZIK,1999).
Muitos educadores (VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2006; PIAGET,
1975; WALOON, 1981) sugerem a utilização de jogos e brincadeiras como
metodologia de ensino e aprendizagem com vistas a contribuição no
desenvolvimento da inteligência, da criatividade, da linguagem, da
sociabilidade, da afetividade e da organização do pensamento.
A função social da escola é propiciar a todos os alunos o
saber sistematizado ao longo da história da humanidade. No decorrer do trajeto
muitos podem ser os obstáculos encontrados no processo de ensino e de
aprendizagem.
De acordo com Blanco (1995) o professor precisa ter clareza
de como a criança aprende, pois o conceito de aprender determina o de como
ensinar. Responder adequadamente a cada aluno significa entender que cada
escolar tem seu ritmo, seu estilo, seus interesses, seus limites e suas
possibilidades. Em síntese, “é a escola que deve adaptar-se à criança e não o
contrário, como ocorreu até agora” (BLANCO,
1995, 308).
Isso significa entender que o espaço escolar é um ambiente
de diferenças e de diversidades, portanto, exige de os educadores novas
compreensões acerca dos fatores que interferem na aprendizagem dos alunos, bem
como mudanças nas estratégias, nos encaminhamentos metodológicos e avaliativos
do processo ensino-aprendizagem.
Pois, o enfrentamento aos desafios educacionais
contemporâneos (educação ambiental; educação em/para direitos humanos;
prevenção ao uso indevido de drogas; enfrentamento a violência, educação
inclusiva e outros) necessita dos docentes uma formação sólida e consistente,
para enfrentar e propor ações educativas de qualidade para essas demandas
(SEED, 2009).
Uma educação que se propõe inclusiva e de qualidade para
todos, deve re(conhecer) as diferenças e diversidades, respeitando-as e
compreendendo os limites e os avanços de seus educandos. Isso só será possível,
se o professor propor intervenções pedagógicas considerando as singularidades e
subjetividades
presentes no espaço educativo da unidade escolar (BRASIL,
2004).
Desta forma, justifica-se a realização deste estudo, pois
realizou um trabalho pedagógico com uma população considerada pelos educadores
difícil de ser trabalhada, a saber: o aluno com TDAH.
Pensando na inclusão deste educando e na sua sociabilização,
e que algo deveria ser realizado para diminuir suas dificuldades acadêmicas,
muitas vezes geradas pela falta de entrosamento no meio em que vive e no seu
ambiente escolar, utilizou-se como ferramenta pedagógica o jogo.
Este é considerado como uma importante atividade na educação
de crianças, uma vez que permite o desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo,
social, moral e a aprendizagem de conceitos, pois jogando a criança
experimenta, descobre, inventa, exercita e confere suas habilidades,
estimulando a curiosidade, a iniciativa e a auto confiança, proporcionando
aprendizagem, desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração da
atenção, sendo indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança
(HUIZINGA, 1996).
Sendo assim, dentre os vários jogos que desenvolvem a
atenção e concentração utilizou-se o jogo de xadrez como estratégia de
intervenção pedagógica para alunos com TDAH. A atividade com o xadrez
possibilita ao aluno: jogar atendendo as normas, adaptar-se a um código comum,
tendo liberdade para criar iniciativas e acatar limites não violando regras.
Ademais o jogo favorece o planejamento estratégico (atenção executiva), o
manuseio das peças no tabuleiro (atenção seletiva) e a concentração no jogo (atenção
sustentada), habilidades estas que o aluno com TDAH apresenta extrema
dificuldade em atividades escolares, o objetivo do jogo de xadrez é propiciar
de uma forma prazerosa o domínio dessa função cognitiva superior (D’AGOSTINI,
2002;TIRADO; SILVA, 1996).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO TRANSTORNO POR DÉFICIT DE
ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE
O Transtorno por Déficit de Atenção/Hiperatividade é
considerado um problema de saúde mental, o qual se manifesta pela desatenção,
agitação motora excessiva (hiperatividade) e impulsividade (DSM IV, 1995;
ROHDE; BENCZIK, 1999).
Pesquisas têm abordado sobre possíveis causas para o
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, como a hereditariedade,
problemas durante a gravidez ou no parto, exposição a determinadas substâncias,
problemas familiares. Mas, como afirma Rohde e Benczik (1999, p.58), é
importante lembrar que muitas destas pesquisas somente mostram uma associação
entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
De acordo com o DSM IV (1995) os sinais e os sintomas de
cada característica são observados de diferentes maneiras, tanto no âmbito
escolar quanto fora dele, ou seja:
a) Desatenção
- incapacidade de fixar atenção a detalhes e, por isso,
comete erros nos exercícios escolares;
- incapacidade de sustentar a atenção nas brincadeiras,
jogos e atividades escolares;
- incapacidade de escutar o outro;
- incapacidade em seguir roteiros e completar as tarefas
solicitadas;
- incapacidade na organização dos materiais e das tarefas;
- incapacidade em realizar atividades as quais exijam
esforço mental;
- incapacidade de manter-se atento frente a estímulos
distratores;
- incapacidade de lembrar-se das atividades rotineiras;
- incapacidade de não perder os materiais e os objetos.
b) Hiperatividade
- incapacidade de manter os pés e as mãos parados;
- incapacidade de manter-se sentado por um período longo;
- incapacidade de detectar situações perigosas (corre, sobe
e desce em locais inapropriados);
- incapacidade de executar uma brincadeira silenciosamente;
- incapacidade motora (excessiva perseveração);
- incapacidade de manter-se quieto (fala excessiva).
c) Impulsividade
- incapacidade de esperar sua vez;- incapacidade de não se
intrometer em conversas e brincadeiras alheias;
- incapacidade de ouvir o término da pergunta, responde
precipitadamente.
Estes sintomas do Transtorno por Déficit de
Atenção/Hiperatividade podem ser classificados em três subtipos: a) Tipo
Combinado; b) Tipo Predominantemente Desatento; c) Tipo Predominantemente
Hiperativo/Impulsivo.
O manual de diagnóstico e estatístico de transtornos mentais
(DSM – IV, 1995) considera o diagnóstico de TDAH a manifestação desses
conjuntos de sintomas (pelo menos seis de cada subtipo) em contextos
diversificados, os quais ocorrem frequentemente pelo menos por seis meses. Os
pesquisadores
(BARKLEY, 2002; BENCZIK, 2000; RODHE; MATTOS, 2003) indicam
que várias são as causas do transtorno, como por exemplo: fatores genéticos,
ambientais e sociais.
Alguns pesquisadores adicionam outros sintomas, como por
exemplo: humor instável, depressões freqüentes, caligrafia de difícil
entendimento (SILVA, 2006). De acordo com Andrade (2003) nos primeiros anos de
vida da criança já se pode detectar alterações no processo de desenvolvimento
neurológico e emocional, pois algumas crianças apresentam choro excessivo, sono
agitado, poucas horas de sono e irritabilidade. Com o decorrer dos anos, a
agitação dessas crianças muitas vezes leva-as a quebrarem os brinquedos,
perderem o interesse pelas brincadeiras e se machucarem, com frequência.
Para Rohde e Benczik (1999) os infanto-juvenis com
características de hiperatividade, impulsividade e desatenção tendem a
apresentar desvantagens em espaços que exijam habilidade de atenção, de
controle motor e de impulsos, os quais são de extrema importância em tarefas da
vida diária e escolar. Neste sentido, é comum as crianças e os adolescentes com
TDAH apresentarem baixa auto estima devido ao seu comportamento, muitas vezes,
são rotulados de mal educados, inconvenientes, sem limites, o que levam a se
isolarem ou serem rejeitados em grupos.
2.2 REDES DE ATENÇÃO
Toda atividade consciente humana requer a atos de atenção
(VIGOTSKI, 2001). A atenção é de suma importância na realização consciente de
uma atividade quer seja escolar ou não. Luria (1981) infere que toda atividade
mental organizada e planejada humana possui algum nível de direção e de seletividade.
Portanto, define atenção como a organização do caráter direcional e a
seletividades dos processos mentais.
Para Luria (l981) o cérebro humano é um órgão que comanda
todo o organismo, dele depende toda capacidade de receber, codificar, elaborar
as informações e programar as ações. O cérebro é formado por três unidades ou
blocos, suas funções são essenciais, pois, delas dependem toda atividade
organizada e consciente do homem.
O primeiro bloco do cérebro é formado pelo tronco
encefálico, hipotálamo e talámo, e tem comofunção a manutenção do tônus
cerebral, o controle do sono, da vigília, da atenção e da memória.
A segunda unidade funcional do cérebro é composta pelas
regiões posteriores do cérebro (occiptal, temporal e parietal). A função
primária deste bloco consiste em receber, processar e armazenar as informações
das áreas auditivas, visuais e tátil-cinestésica.
Essas regiões são subdivididas em áreas primárias,
secundárias e terciárias. As áreas primárias recebem todo tipo de informações,
selecionam os estímulos recebidos e distribui para as áreas secundárias. O
córtex visual possibilita a entrada da informação, as áreas 17 (córtex
estriado), no mapa citoarquitetônico de Broadmann tem a função de simplificar o
processamento das informações recebidas (KAJIHARA, 1993).
O córtex auditivo está localizado nas áreas 41 e 42 (giro
temporal transverso) responde estímulosacústicos variados. O córtex
sensorio-motor está localizado nas áreas 1, 2,3 e 4 de Broadmann, toda
informação processada nesta área envolve processos receptivos auditivos,
visuais e somestésicos (KAJIHARA, 1993).
A área terciária tem função de organização espacial de
impulsos que chegam às diferentes zonas cerebrais. A terceira unidade funcional
é formada pela região anterior do cérebro e está conectada com o tronco
cerebral incluindo a formação reticular. Tem a função de programar, regular
atenção e concentração e verificar ação consciente do homem (LURIA, 1981).
A aprendizagem só acontece quando o sistema nervoso central
está em condições favoráveis, integrado e coordenado com seus componentes.
Alterações no sistema nervoso central manifestam em problemas de aprendizagem,
mas especificamente em aritmética, leitura e escrita dos alunos. Benczik (2000)
destaca alguns fatores que contribuem para o insucesso escolar do aluno com
TDAH, como por exemplo, a formação pedagógica insuficiente na compreensão dos transtornos
da aprendizagem, excesso de educandos matriculados na mesma turma, má
remuneração dos docentes, o que dificulta buscar novos cursos complementares
acerca das dificuldades no processo de ensino e aprendizagem.
2.3 CONSIDERAÇÕES EDUCACIONAIS DO TDAH
Benczik e Bromberg (2003) consideram alguns fatores que
contribuem para o desempenho e a adaptação do escolar com TDAH, a saber: o
atual sistema de educação no Brasil; as intervenções educacionais e o
desempenho escolar do aluno com TDAH; a função da escola e do professor
naadaptação e flexibilização curricular dessa população.
De acordo com as autoras supracitadas a escola desconsidera
as diferenças individuais tratando deforma homogênea todos aqueles que passam
por ela. A demais, o sistema educacional enfatiza, apenas, os aspectos
cognitivos do ensino e da aprendizagem, renegando outras habilidades, como por
exemplo,
cinestésica, musical, espacial e outras. Para Macedo (2005,
p.12) “tanto a dimensão intelectual como em nosso cotidiano, deparamo-nos com o
diferente, com o que surpreende, com aquilo que transgride nosso esforço de
redução ao conhecido”.
O tratamento de crianças com TDAH supõe intervenção
psicológica, pedagógica e médica. Diante da diferença, toda escola, todo
educador tem que apresentar-se aberto à diversidade e oferecer respostas às
necessidades concretas de todos os alunos, transpondo os modelos rígidos e
inflexíveis, dirigidos ao aluno médio (BLANCO, 1995). A Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional 9.394/96 refere-se no seu artigo 59 a obrigação das
escolas na adequação do ensino para aqueles que apresentarem necessidades
educativas especiais.
O referido artigo destaca:
Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais:
I- currículos, métodos, técnicas, recursos e organização
específicos, para atender às suas necessidades;
II- terminalidade específica para aqueles para aqueles que
não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em
virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o
programa escolar para os superdotados;
III- professores com especialização adequada em nível médio
ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino
regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.
Sendo assim, é direito do aluno um ensino diferenciado e
flexibilizado com currículos adaptados e processos avaliativos diversificados,
os quais atendam as necessidades educacionais especiais singulares do educando.
Acreditamos que o sucesso na sala de aula pode exigir uma
série de intervenções. A maioria destas crianças pode permanecer na classe
regular, com pequenas intervenções no ambiente estrutural da escola,
modificação de currículo e estratégias adequadas à situação, como por exemplo o
jogo.
2.4 O JOGO
O jogo é considerado como uma importante atividade na
educação de crianças, uma vez que permite o desenvolvimento afetivo, motor,
cognitivo, social, moral e a aprendizagem de conceitos, pois jogando a criança
experimenta, descobre, inventa, exercita e confere suas habilidades,
estimulando a curiosidade, a iniciativa e a auto confiança, proporcionando
aprendizagem, desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração da
atenção, sendo indispensável à saúde física, emocional eintelectual da criança
(HUIZINGA, 1996).
O jogo é considerado uma atividade lúdica que envolve três
funções:
1- Socializadora (através do jogo a criança desenvolve
hábitos de convivência);
2- Psicológica (pelo jogo a criança consegue controlar seus
impulsos);
3- Pedagógica (o jogo trabalha a interdisciplinaridade, a
heterogeneidade e o erro de forma positiva, tornando a criança agente ativo no
processo de desenvolvimento).
O jogo possibilita o “aprender-fazendo” e para ser mais bem
aproveitado é conveniente que proporcione atividades dinâmicas e desafiadoras,
que exijam participação ativa da criança.
As relações cognitivas e afetivas, consequentes da interação
lúdica, propiciam amadurecimento emocional e vão construindo a sociabilidade. O
jogo, compreendido sob a ótica do brinquedo e da criatividade, deverá encontrar
maior espaço para ser entendido como educação, na medida em que os professores
compreenderem melhor toda a sua capacidade potencial de contribuir para o
desenvolvimento dos escolares.
No jogo existem as regras e depois que todos a conhecem têm
as mesmas oportunidades, e aprendem a aceitá-las, pois o desafio está,
justamente, em saber respeitá-las, esperar sua vez, aceitar o resultado do jogo
ou de um fator de sorte que o determine, são excelentes exercícios para lidar
com frustrações e, ao mesmo tempo, elevar o nível da motivação (HUIZINGA,
1996).
Para Piaget (1975) nos jogos de regras existe algo mais que
a simples diversão e interação, pois, eles revelam uma lógica diferente da
racional. Este tipo de jogo revela uma lógica própria da subjetividade
necessária para a estruturação da personalidade humana quanto à lógica formal,
advinda das estruturas cognitivas. Optou-se pelo Xadrez por uma atividade
primordial por excelência, não só por atender às características de desporto,
estimulando, entre outros, o espírito competitivo e autoconfiança, bem como,
adequando-se às exigências da educação moderna e elevando a auto-estima da
pessoa para além do xeque-mate. Por isso sugere-se a utilização do jogo de
xadrez como estratégia de intervenção pedagógica para alunos que apresentam
TDAH.
A atividade com o xadrez possibilita ao aluno: jogar
atendendo as normas, adaptar-se a um código comum, tendo liberdade para criar
iniciativas e acatar limites não violando regras (D’AGOSTINI, 2002; TIRADO;
SILVA,1996).
2.5 O JOGO DE XADREZ
No xadrez, o tempo todo está se criando jogadas, das mais
simples às mais complexas, para se alcançar o objetivo proposto que são:
capturar o adversário, proteger nossas próprias peças, atacar o Rei adversário,
entre outras. Dessa forma, a prática do jogo parece potencializar o
desenvolvimento de habilidades como: planejamento estratégico (atenção
executiva), o manuseio das peças no tabuleiro (atenção seletiva) e a
concentração no jogo (atenção sustentada).
Ainda desenvolve várias habilidades como atenção
(indiscutível para qualquer aprendizagem, é fundamental durante o jogo, dentre
outras coisas para que não cometam lances impossíveis), concentração,
julgamento, planejamento, imaginação (é necessária para conseguir abstrair o
sentido da representação gráfica expressa por uma determinada palavra),
antecipação, memória (base de toda e qualquer aprendizagem e no xadrez é
requisitada o tempo todo, desde o nível mais elementar do jogo até o mais
avançado), vontade de vencer, paciência, autocontrole, espírito de decisão e
coragem, lógica matemática, criatividade, inteligência e também é um excelente
meio de recreação e de formação de caráter dos adolescentes dando a
possibilidade desse aluno progredir segundo seu próprio ritmo (PINTO;
CAVALCANTI, 2005).
Além dessas habilidades é possível observar sua
interferência nas seguintes áreas do desenvolvimento (PINTO; CAVALCANTI, 2005):
ÁREA MOTORA: Coordenação viso motora, coordenação dinâmica
manual, orientação espacial.
ÁREA COGNITIVA: Memória, atenção e concentração, raciocínio,
antecipação e planejamento, bem como a sua linguagem.
ÁREA AFETIVO-EMOCIONAL: Socialização.
ÁREA ACADÊMICA: Construção do número e oralidade.
O xadrez (GIUSTI, 2006) é um jogo muito antigo, e não se
sabe ao certo sua origem. Uma das versões, muito conhecida como a verdadeira
história do xadrez é a “Lenda de Sissa”. "Conta-se que o rajá indiano
Balhait, entediado com jogos em que a sorte acabava prevalecendo sobre a
perícia e a habilidade do jogador, pediu a um sábio de sua corte, chamado
Sissa, que inventasse um jogo que valorizasse qualidades nobres, como a
prudência, a diligência, a lucidez e a sabedoria, opondo-se às características
de aleatoriedade e fatalidade observadas no nard (antigo jogo indiano com
dados).
Passado algum tempo, Sissa se apresentou ao rajá com sua
invenção. Tratava-se de um tabuleiro quadriculado, sobre o qual se movimentavam
peças de diferentes formatos, correspondendo cada formato a um elemento do
exército indiano: Carros (Bispos), Cavalos, Elefantes (Torres) e Soldados
(Peões), além
de um Rei e um vizir (Rainha). Sissa explicou que escolheu a
guerra como tema porque é a guerra onde mais pesa a importância da decisão, da
persistência, da ponderação, da sabedoria e da coragem.
O rajá ficou encantado com o jogo e concedeu a Sissa o
direito a pedir o que quisesse como recompensa. Sissa tentou recusar a
recompensa, pois a satisfação de ter criado o jogo, por si só, já lhe era
gratificante. Mas o rajá insistiu tanto que Sissa concordou em fazer um pedido:
- Desejo, como recompensa, um tabuleiro de Xadrez cheio de
grãos de trigo, sendo que a primeira casa deve ter um grão, a segunda deve ter
dois, a terceira deve ter quatro, a quarta deve ter oito, e assim
sucessivamente, dobrando o número de grãos na casa seguinte, até encher todas
as casas do tabuleiro com
o número de grãos correspondentes.
O rajá se recusou a satisfazer um pedido tão modesto, e
tentou persuadir Sissa a escolher uma recompensa mais valiosa. No entanto,
Sissa disse que para ele bastava que lhe fosse conferida aquela recompensa, e
nada mais.
Diante disso, o rajá ordenou que lhe dessem um saco de
trigo, julgando que nele haveria pagamento de sobra, mas Sissa se recusou a
aceitá-lo. Disse que não queria nem um grão a mais nem a menos do que lhe cabia
receber.
Foi só então que o rajá ordenou aos seus matemáticos que
calculassem a quantia exata que deveria ser paga, e descobriu, para sua
consternação, que todo o trigo da Índia não era suficiente, aliás, todo o trigo
cultivado no mundo, durante dezenas de anos, não seria suficiente! A quantia
era 264 - 1 grão de trigo, que corresponde à soma da série: 1 + 2 + 4 + 8 + 16
+ 32 + 64 + 128 + 256 + 512 + 1.024 + 2.048 + 4.096 + ... +
9.223.372.036.854.775.808, isto é, 18.446.744.073.709.551.615 grãos de trigo!
Para alívio do rajá, Sissa disse que já sabia que sua
recompensa não poderia ser paga, pois aquela quantidade daria para cobrir toda
a superfície da Índia com uma camada de quase uma polegada de espessura."
No decorrer da história do jogo de xadrez, diversos países,
tais como: Egito, Pérsia, Grécia, Irlanda, Índia, entre outros, são apontados
como o berço do xadrez. Na atualidade, a maioria dos pesquisadores concorda que
o jogo tenha se originado no norte da Índia, baseado na prova linguística que
indica que os termos para a palavra xadrez, nas línguas portuguesas, árabe,
persa, turca, grega e espanhola, derivam do sâncrito Chaturanga. É apenas nesta
versão que contém os três animais citados até hoje no xadrez: o cavalo, o
elefante e o camelo, que representam respectivamente o cavalo, o bispo e a
torre no xadrez. Segundo Tirado e Silva (1996) com o Advento da Renascença
Italiana, em 1485, o jogo de xadrez sofre alterações definitivas,
transformando-se em um jogo mais competitivo. Novos poderes foram dados a
algumas peças (dama, bispos, peões); nascendo assim o xadrez moderno. O xadrez
moderno foi basicamente criado a partir do século XV e finalizado no século
XIX. O jogo de xadrez (D’ AGOSTINI, 2002) é um esporte intelectual, que é
jogado entre dois adversários ou em equipes. Os adversários iniciam o confronto
com forças iguais, ou seja, com o mesmo número de peças, que são de cores
diferentes, geralmente pretas e brancas.
Este jogo é realizado sobre um tabuleiro quadrado, dividido
e sessenta e quatro casas. Dispõem-se o tabuleiro de maneira que o jogador
tenha a sua direita a casa angular branca. As sessenta e quatro casas do
tabuleiro formam as 8 colunas, as 8 horizontais e as diagonais.
Todas as casas do tabuleiro possuem uma denominação
específica que é dada pelo encontro de uma fila (horizontal), com uma coluna
(vertical). As colunas recebem letras de “a” até “h” e as filas que são
enumeradas de “1” a “8”. As peças que estão sobre ele e se movimentam segundo
leis convencionais são em número de 32, cabendo 16 para cada lado e são as
seguintes: 2 torres, 2 cavalos, 2 bispos,1 dama e 1 rei.
Os peões estendem-se pela segunda horizontal; as torres
formam nas casas angulares; os cavalos junto às torres; os bispos ao lado dos
cavalos. A dama branca ocupa a casa branca, a dama preta ocupa a casa preta. Os
reis situam-se nas casas restantes.
Cada peça tem seu movimento próprio:
Rei – É a peça principal do jogo. O rei se movimenta para
todos os lados, de uma em casa.
Dama - A dama movimenta-se em todas as direções quantas
casas for conveniente. Ela é muito poderosa pelo seu raio de ação.
Torre – A torre movimenta-se no sentido horizontal ou
vertical, quantas casas forem possíveis.
Cavalo – O cavalo possui um movimento particular bastante
diferente das demais peças. Para simplificar digamos que o cavalo anda uma casa
como a torre e uma casa como o bispo. O cavalo é a única peça que salta sobre
as outras. Se o cavalo sair de uma casa branca ele irá parar numa casa preta e
vice-versa.
Bispo - Os bispos percorrem as diagonais quantas casas for
necessário Cada jogador começa a partida com um par de bispos, um que percorre
casas pretas e outro pelas casas brancas.
Peão – Peça de valor teórico reduzido, mas de grande
importância. Seu movimento é limitado e funciona, na maior parte das vezes,
como um escudo para outras peças. O peão só anda para frente de casa em casa.
Quando ainda na posição inicial, ele pode pular duas casas. Os peões não
capturam as peças ao longo do seu movimento e sim na diagonal.
Ao se iniciar uma partida as peças do jogo têm uma posição
definidas, e o primeiro lance corresponde às brancas, a seguir as pretas e
assim sucessivamente. O objetivo do jogo é dar o mate no adversário. O jogador
que consegue dar o xeque-mate é o vencedor da partida. Antes que este final
aconteça várias batalhas antecedem com o deslocamento das peças.
3 METODOLOGIA
As atividades de intervenção pedagógica foram realizadas na
Escola Monteiro Lobato com 20 escolares de 5ª e 6ª séries matriculados no
Ensino Regular e Sala de Recursos (alunos já diagnosticados com TDAH).
Antecede a essa intervenção in lócus, estudos e atividades
realizados de acordo como Plano de Desenvolvimento Educacional (PDE), proposto
pelo Governo do Estado do Paraná.
As primeiras atividades (PDE) foram aulas presenciais,
seminários, palestras, vários cursos e diálogos entre os professores do Ensino
Superior e os da Educação Básica, com atividades teórico-práticas, orientadas,
tendo como resultados a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na
prática escolar da escola pública paranaense. Este plano seguiram com 5 etapas
distintas:
3.1 PLANO DE TRABALHO
O Plano de Trabalho da proponente deste artigo (Professora
PDE), realizado em 2008 contempla o Projeto de Intervenção Pedagógica e a
Implementação da Produção Didático-Pedagógica na Escola Estadual Monteiro
Lobato. Neste processo buscou-se conhecer as necessidades educacionais
especiais, procurando as alternativas pedagógicas que melhor pudessem atender
às necessidades e anseios dos alunos com TDAH, professores e pedagogos desses
educandos.
3.2 CADERNO PEDAGÓGICO
Para realização da intervenção pedagógica, respeitando as
necessidades e dificuldades dos alunos com TDAH, foram realizados leituras,
estudos e a produção didático-pedagógica, ou seja, um Caderno Pedagógico. Este
material sugere atividades com o jogo de xadrez, como instrumento metodológico
para auxiliar no desenvolvimento dos níveis de atenção desses alunos.
Neste sentido, utilizou-se estudos de vários autores, como
por exemplo: Vygotski; Luria; Leontiev (2006); Piaget (1975) e Waloon (1981) os
quais sugerem a utilização de jogos e de brincadeiras como metodologia de
ensino e aprendizagem para contribuir no desenvolvimento da inteligência, da
criatividade, da linguagem, da sociabilidade, da afetividade, da organização do
pensamento e outros.
3.3 PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO NA ESCOLA
A Proposta foi apresentada, pela professora PDE, na Semana
Pedagógica das escolas estaduais que acontece no início do ano letivo, que tem
por objetivo a formação continuada dos Profissionais da Educação, onde Direção,
Equipe Pedagógica, Professores, funcionários, pais e alunos discutem a
organização da escola, a gestão escolar democrática, o projeto
político-pedagógico e a avaliação escolar. Junto com a Professora da Sala de
Recursos e a equipe pedagógica elaborou-se um calendário, para a implementação,
que teve a duração de 4 meses, e que nela seria utilizado o Caderno Didático.
3.4 ASSESSORIA DOS ALUNOS DE TRABALHO EM REDE
Dentre as atividades previstas Plano de Carreira destaca-se
a do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, que possibilita a integração do Professor
PDE com os Professores da Rede, por meio de encontros virtuais, para a
discussão das temáticas de sua área de formação e/ou atuação.
3.5 TRABALHO FINAL: ARTIGO
Finalizou-se este programa de desenvolvimento com este
artigo, após muitos estudos, pesquisas, intervenções, seminários, grupo de
trabalho em rede, formação continuada dos professores. Finalizou-se este
programa de desenvolvimento com este artigo, após muitos estudos, pesquisas,
intervenções, seminários, grupo de trabalho em rede, formação continuada dos
professores dentro da sua realidade escolar.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A motivação em estudar os alunos com TDAH, se deve ao índice
de escolares que podem apresentar este transtorno. De acordo com Dupaul e
Stoner; (2007) cerca de 3% a 7% da nossa população escolar pode manifestar esse
distúrbio.
Diante dessa situação e como professora de Educação Física
buscou-se na atividade com jogo, em especial o jogo de xadrez oportunizar o
desenvolvimento das redes de atenção de uma forma lúdica e prazerosa.
O aluno diagnosticado com TDAH tem o direito de um ensino
diferenciado e flexibilizado, com currículos adaptados e processos avaliativos
diversificados, os quais atendam as necessidades educacionais especiais
singulares do educando.
Observou-se que o aluno com TDAH consegue obter maior
aproveitamento quando recebe apoio, incentivo e ajuda individual; compreensão e
respeito ao seu tempo de aprendizagem e suas limitações. A firmeza e o
comprometimento do professor são fundamentais, bem como a utilização de
técnicas e recursos adequados, evitando a exposição do aluno à situações constrangedoras.
As atividades propostas pelo Caderno Pedagógico propiciaram
resultados satisfatórios, pois vários professores inferiram que observaram
melhora da concentração, no rendimento escolar e, principalmente, na
auto-estima dos alunos (TDAH) que participaram da atividade com o jogo de
xadrez
Um dos aspectos observados quando da realização da atividade
refere-se a capacidade de prontidão que os alunos com TDAH demonstraram, pois
participaram das atividades e estenderam-na quando as ensinavam aos seus colegas
do Ensino Regular que não participaram da atividade.
Verificou-se que no momento que transmitiam o aprendizado do
jogo de xadrez aos seus colegas, os alunos com TDAH demonstravam interesse e
satisfação em saber algo adicional em relação aos companheiros de turma. Esse
fato denota que houve elevação da estima, bem como, segurança na realização da
atividade. Um dos fatores que interfere negativamente no aprendizado do aluno é
a insegurança em sua
produção, esta atividade proporcionou descobrir e desenvolver
os pontos fortes em cada aluno. Como professora de Educação Física desconhecia
o trabalho realizado na Sala de Recursos. Por meio da intervenção pedagógica
foi possível observar como é o cotidiano desse programa da Educação
Especial.
A professora desta turma realiza várias atividades, de forma
individual e também coletiva, estabelecendo uma rotina clara, usando recursos
visuais e auditivos. Adota-se atitudes positivas, como elogios para os
comportamentos adequados (alunos com TDAH sempre tem sua atenção chamada para o
que fazem de errado), enfatiza-se o que fazem de correto. Procura-se controlar
pela proximidade, usar música para relaxar, usar proximidade física (mão no
ombro, contato no olhar, toque na carteira), sempre com voz calma e firme.
São usadas técnicas que envolvem a escrita, a leitura, os
contos de fada e os jogos. Os jogos, em geral, são utilizados como metodologia
na Sala de Recursos. O jogo de xadrez desenvolvido com os alunos com TDAH
contribuiu o tempo o todo para criação de jogadas, das mais simples às mais
complexas, para se alcançar o objetivo proposto que são: capturar o adversário,
proteger nossas próprias peças, atacar o Rei adversário, entre outras. Dessa
forma, a prática do jogo parece potencializar o desenvolvimento de habilidades
como: planejamento estratégico (atenção executiva), o manuseio das peças no
tabuleiro (atenção seletiva) e a concentração no jogo (atenção sustentada).
Ainda desenvolve várias habilidades como atenção
(indiscutível para qualquer aprendizagem, é fundamental durante o jogo, dentre
outras coisas para que não cometam lances impossíveis), concentração,
julgamento, planejamento, imaginação (é necessária para conseguir abstrair o
sentido da representação gráfica expressa por uma determinada palavra), antecipação,
memória (base de toda e qualquer aprendizagem e no xadrez é requisitada o tempo
todo, desde o nível mais elementar de jogo até o mais avançado), vontade de
vencer, paciência, autocontrole, espírito de decisão e coragem, lógica
matemática, criatividade, inteligência e também é um excelente meio de
recreação e de formação de caráter dos adolescentes dando a possibilidade desse
aluno progredir segundo seu próprio ritmo (PINTO; CAVALCANTI, 2005), o que foi
observado em várias situações, quando da realização das atividades com os
alunos da Sala de Recursos.
A situação apresentada vem ao encontro da legislação, a qual
sinaliza para um ensino diferenciado para os alunos que encontram obstáculos,
tanto acadêmicos quanto de sociabilização.
Neste sentido, concorda-se com a professora participante do
grupo do GTR 2008 quando esta comenta:
Sabemos que um dos maiores desafios sociais que a educação
tem é a integração dos alunos com deficiências e/ou com problemas de
aprendizagem e que não existe cura para esses problemas, essas dificuldades são
para toda a vida. No entanto estas crianças podem progredir e aprender muito,
superando muitas de suas limitações, quando há um suporte pedagógico adequado.
Essa proposta com atividades de xadrez para alunos com TDAH apresenta uma
sucessão de idéias e metodologias que darão subsídios para o trabalho do
professor, enfatizando a aprendizagem com sucesso, do aluno como um todo,
trazendo junto ao jogo do xadrez conhecimento em várias áreas, sendo que a
atenção focada no jogo irá estimular o interesse pelo estudo (M. J. C.).
O jogo de xadrez, segundo estudos denomina-se um esporte
pedagógico, a sua prática auxilia no desenvolvimento de todas as disciplinas
curriculares, melhorando assim o seu rendimento escolar e consequentemente
eleve sua auto-estima, visto que o TDAH não é apenas um problema
comportamental.
Pode-se inferir que o jogo tem todos os elementos
necessários à aprendizagem, pois ele desafia, desequilibra, descentraliza o
pensamento e o comportamento. Estimula a reflexão, a criatividade, a cooperação
e a reciprocidade. Jogando a criança vai organizando o mundo à sua volta,
vivenciando experiências, emoções e sentimentos, descobrindo suas aptidões e
possibilidades, construindo e inventando alternativas.
Aprender e praticar o jogo de xadrez potencializa o
desenvolvimento de habilidades, como capacidade de antecipação, planejamento e
elaboração de estratégias, proporcionando com isto uma melhora na sua
capacidade de fixar sua atenção por um período mais longo e de vislumbrar um
futuro.
Também pudemos contar com experiências trazidas pelo grupo
de GTR, as quais foram riquíssimas, visto que vários desses professores já
vivenciam algumas dificuldades em suas escolas estaduais e usam o xadrez para
amenizar esses problemas.
Os participantes dos Grupos puderam estabelecer relações
teórico-práticas em sua área de conhecimento, visando ao enriquecimento
didático-pedagógico, por meio de leituras, reflexões e troca de idéias.
Este grupo de trabalho virtual nos trouxe muitas
experiências, visto que quase todos os alunos atuam com esta ferramenta
pedagógica (o Jogo de Xadrez) com seus alunos. Iniciou-se com 40 alunos
(professores da rede pública), de todo o Estado do Paraná, altamente
comprometidos com a Educação.
Este trabalho em rede contou com 6 Módulos, com diários e
Fóruns, dando a possibilidade de muitos debates sobre o tema. Muitos
professores demonstram sua angústia por este aluno, nota-se isto pelo relato de
uma aluna/professora que cita:
Penso que se faz necessário o aprofundamento do tema pelos
professores. O aluno com TDAH e outras dificuldades de aprendizagem, estão
presentes nas salas de aula, muitas vezes fazendo parte de um grupo considerado
indisciplinado - desatento. Na verdade a criança não quer ser assim ou ficar
assim, ela pede incansavelmente por ajuda. Quando me refiro ao estudo é porque
o professor após um diagnóstico deve conhecer, entender o caso para buscar
aperfeiçoamento em sua prática, só saber não é suficiente. A fundamentação
teórica deixa claro isso quando de acordo com Blanco 1995, especifica:
Responder adequadamente a cada aluno, significa entender que cada escolar tem
seu ritmo, seu estilo, seus interesses, seus limites e suas possibilidades (M.
J. C.). Esta possibilidade de se poder dialogar com outros professores da rede
Estadual é riquíssima e com certeza trás muitos conhecimentos tanto para os
alunos quanto para os seus tutores.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos inferir que o jogo tem todos os elementos
necessários à aprendizagem, pois ele desafia, desequilibra, descentraliza o
pensamento e o comportamento. Estimula a reflexão, a criatividade, a cooperação
e a reciprocidade. Jogando a criança vai organizando o mundo à sua volta,
vivenciando
experiências, emoções e sentimentos, descobrindo suas
aptidões e possibilidades, construindo e inventando alternativas.
No decorrer da pesquisa foi possível observar que o aluno
com TDAH quando da atividade com o xadrez desenvolveu várias habilidades, como
por exemplo: iniciativa de decisão, raciocínio lógico e espacial, controle,
memória, percepção, respeito às regras, resiliência, auto-estima e espírito de
equipe (PINTO;CAVALCANTI,2005), além disso é um jogo prazeroso, que pode ser
jogado a vida inteira e a cada lance, ou cada jogo é diferente. O trabalho
desenvolvido na Implementação Pedagógica confirmou a concepção de que o Jogo de
Xadrez, por suas peculiaridades consegue atingir até aquele aluno com maiores
dificuldades, pois ele está sempre desafiando, motivando e deixando transpor
barreiras.
Durante a execução das etapas que se seguiram foram
visíveis, quanto ao aprofundamento tema e o sucesso que o jogo fez com todos os
educandos por ser algo dinâmico e diferenciado. Verificouse ainda que os alunos
diagnosticados com este transtorno conseguiram melhorar sua atenção sustentada,
bem como elevar sua alto estima e assim se sociabilizarem.
Espera-se que esta metodologia de trabalho seja implementada
por professores que acreditam na Educação, e estão em constante movimento na
busca de construção e aperfeiçoamento.
A professora da Sala de Recursos bem como, as das diversas
disciplinas, comentaram que esses alunos estão conseguindo melhores resultados
em sala de aula fazendo com que isso eleve consideravelmente sua auto-estima.
Ressalta-se que vários alunos demonstram interesse em
continuar praticando o jogo e alguns já participam de competições internas,
obtendo grande sucesso.
É imprescindível a compreensão, o estudo, a intervenção do
educador sobre os fatores que interferem na aprendizagem do aluno, refletindo
constantemente as questões internas (cognitiva, psicomotora e afetiva) e
externas (escola, família, sociedade) que atingem e conseguem modificar o
processo de construção do conhecimento, a permanência e a exclusão do ambiente
escolar. É necessário envolver-se pessoalmente nos desafios, sensibilizar-se,
mobilizar-se, ousar acreditar que a escola pode se renovar a cada dia e que o
conhecimento pode romper com preconceitos e rótulos associados aos alunos
hiperativos, garantindo a eles o desenvolvimento de suas potencialidades. Esta
pesquisa é apenas o começo do novelo que o problema do TDAH apresenta hoje nas
escolas.
Há muito ainda por desenrolar, pesquisar e estudar sobre o
assunto na busca de melhores alternativas. Há muitas barreiras a serem
transpostas.
6 REFERÊNCIAS
ANDRADE, E. R. Quadro clínico do transtorno por déficit de
atenção/hiperatividade. In: ROHDE L. A; MATTOS, P. (Orgs.). Princípios e
práticas em transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Porto Alegre:
Artmed, 2003.
BARKLEY, R. A. Transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade (TDAH): guia completo e autorizado para pais,
professores e profissionais da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2002.
BENCZIK, E. B. P. Manual da escala de transtorno de déficit
de atenção/hiperatividade: versão para professores. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2000.
BLANCO, R. Inovação e recursos educacionais na sala de aula.
In: COLL, César; PALÁCIOS, Jesus; MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento
educacional: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1995.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei
n 9.394/96. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário
Oficial da União. Ano CXXXIV, n 248, de 23/12/1996.
D’AGOSTINI, S.O. S. Xadrez básico. Rio de Janeiro: Edouro,
2002. DSM – IV. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad.
Cláudia Dornelles – 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1995.
DUPAUL, G.; STONER, G. TDAH nas escolas: estratégias de
avaliação e intervenção. São Paulo:Books, 2007.
GIUSTI, P. História ilustrada do xadrez. Rio de Janeiro:
Ciência Moderna, 2006.
KAJIHARA, Olinda Teruko. Referenciais teóricos para a
investigação das funções corticais superiores através da Wechsler Intelligence
Scale For Children (WISC). Dissertação (Mestrado) – Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
LURIA, Aleksandr R. Fundamentos de Neuropsicologia. Rio de
Janeiro: Universidade de São Paulo, 1981. Curso de Psicologia Geral. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, v. 1, 1991.
MACEDO, L. Ensaios pedagógicos: como construir uma escola
para todos? Porto Alegre: Artmed, 2005.
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. São Paulo:
Zahar, 1975.
PINTO, V.; CAVALCANTI, F. Xadrez para todos: uma ferramenta
pedagógica. Recife: Bagaço, 2005.
RIZO, L.; RANGÉ, B. Crianças desatentas, hiperativas e
impulsivas: como lidar com essas crianças na escola? In: BRANDÃO, M. Z. et al.
Sobre comportamento e cognição: a história e os avanços, a seleção por
conseqüências em ação. Santo André: Ed. Associados, 2003.
ROHDE , L. A.; BENCZIK, E. B. P. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade:
o que é? Como
ajudar? Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
ROHDE , L. A.; MATTOS, P. (Orgs.). Princípios e práticas em
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003.
TIRADO, A. C. S. B.; SILVA, W. Meu primeiro livro de xadrez.
Curitiba: FUNDEPAR, 1996.
VIGOTSKI, L. S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
VIGOTSKI, L. S.; LURIA. A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem,
desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2006.WALLON, H. A evolução
psicológica da criança. Lisboa: Edição 70, 1981.
Nenhum comentário:
Postar um comentário